Eu sabia que isso viraria um drama

Camila
2 min readMay 6, 2022

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Eu queria fechar essa porta. Não, bater essa porta na sua cara. Igual eu bati a porta do carro um dia que fiquei brava com você. Mas o carro nem era seu, era do moço do Uber, que nunca vai ler aqui, mas gostaria que ele soubesse que eu sinto muito, não foi pessoal.

O problema de bater a porta vai ser ficar do lado de cá preocupada de ter pego no seu nariz e te machucado ou de ter prendido seu dedo em tamanha violência. E, é claro, vou querer usar como desculpa pra abrir de novo e ver se você tá bem. E você vai estar, mas eu não.

Já pensei em trancar sutilmente. Afinal, nunca fui uma pessoa grosseira e minha mãe sempre foi dura em relação à bateção de portas, porque pode eventualmente estraga-las e ainda acordar outras pessoas (e deus me livre envolver mais gente nesse bololô que a gente fez). Só que: eu teria a chave e com alguns drinks poderia querer abri-la de mansinho só pra dar uma olhadinha e quando vir, já foi.

Também não dá pra só fechar essa bendita porta, porque tem aquele ditado sobre Deus abrir janelas, o que faz com que sempre haja o risco de realmente elas existirem nesse cômodo imaginário e eu tenho um histórico de pular janelas. Quem sabe um dia eu te conte. Ou não.

É claro que tudo seria mais fácil se eu não tivesse essa mania controladora e a necessidade de encerrar as coisas fechando tudo de um outro lado, como quem empurra sujeira para debaixo do tapete. Sem precisar dar voltas na própria mente e usar todas as metáforas do mundo para chegar a algum lugar. Mas aí não seria eu.

Por isso também que, ainda assim, pós tanto dilema, dessa vez não vai ter conclusão. Porque continuo aqui, imóvel, encarando um batente ocupado pelo silêncio das palavras não ditas. Eu sei que são elas que não me deixam te trancar daí, então vou só me acostumar com a brisa passando pelas frestas e torcer para o seu perfume não entrar junto.

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