the spring is coming

Camila
2 min readApr 2, 2023

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Ontem eu vi que na previsão do tempo que semana que vem vai fazer 26ºC. Eu não faço ideia de quanto é isso em fahrenheit, mas não importa, porque sei que é quente o suficiente pra me fazer tirar o casaco e me fazer sentir que a primavera está, finalmente, dando as caras no hemisfério norte. E eu, que até já tinha me acostumado a sair de casa com a temperatura abaixo de 10º usando só um moletom, não consigo esconder tamanha felicidade.

Quando eu cheguei aqui era tudo água: só chovia e eu só chorava. É quase cômico perceber como a gente vê o próprio mundo acabar tantas vezes e se refazer de novo — por nós mesmos, porque, no fim, essa é a opção que nos mantém de pé. Aí a gente se adapta e reaprende, de repente o frio já nem é tão frio assim e chorar já não é mais nossa primeira ação do dia.

Hoje eu ouvi uma música de um álbum que não ouvia há muito tempo e fui automaticamente transportada para quase 4 anos atrás. Parece que foi ontem ao mesmo tempo em que pareço ter atravessado uma vida inteira desde então. Foi um alívio perceber que os motivos que me faziam desaguar em cada letra já não existem mais, ainda que elas continuem belíssimas.

Talvez seja maturidade e um pouco do “fases da vida”, mas ainda que tenham semanas que eu me vejo matando um leão por dia, a paz de um coração tranquilo não me permite sofrer em álbum nenhum agora, por mais que eu tente. Esse deve ser o preço que pagamos por viver pra gente.

É um preço alto, honestamente. Lembro de uma frase que eu via bastante na internet há alguns anos, “tem que ser imenso pra saber ser sozinho” e ela nunca fez tanto sentido como agora. Algumas semanas atrás eu até comentei com a psicóloga que construir nosso mundo do zero longe de tudo que conhecemos é desconfortável e tive que rebater a mim mesma completando que, ok, eu sei, se eu quisesse conforto tinha ficado em casa. É só que é difícil ter esse olhar quando a gente tá no presente, vivendo tudo.

Talvez um dia eu entenda fahrenheit, fale inglês fluentemente, escute um álbum que me transporte para o momento exato que estou vivendo hoje e perceba que o verão de 2023 foi onde minha vida mudou. Talvez eu até descubra que só gostava tanto do verão porque era no Brasil. A vida tem dessas ironias. Mas vou deixar isso pro futuro. Até lá eu tenho a primavera inteira pra ver o (meu) mundo florescer mais uma vez.

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