um maço de cigarros

Camila
2 min readDec 20, 2023

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esse ano eu descobri que em Portugal não vendem cigarros a varejo. você tem que comprar um maço ou ter cara de pedir um solto praquela pessoa que tem a feição mais simpática do recinto.

eu não sei o motivo disso, me disseram que vendia antigamente, mas, sinceramente, não me dei ao trabalho de pesquisar, por mais que continue a me intrigar.

já faz um tempo dessa viagem, mas ainda hoje são muitos por quês. além daqueles da língua portuguesa, há mais tantos outros na infinita curiosidade — e talvez ansiedade — que habita o caos da minha mente.

tal qual uma criança descobrindo o mundo, que procura a lógica por trás de suas engenhocas e questiona “por que o céu é azul?”, eu me pergunto a natureza dos seus atos.

sei que, a essa altura, eu já deveria ter parado de fazer perguntas que nunca serão respondidas, que só servem para tumultuar meus pensamentos e me trilhar para um labirinto sem saída, mas é muito difícil encarar o vazio.

então você o preencheu por mim.

um maço de cigarros. você guardou um maço de cigarros para se lembrar de mim. aquele que eu tive que comprar depois de já ter ganhado um solto do cara da mesa ao lado enquanto te esperava por horas. e te entreguei antes de vir embora.

seria cômico se não fosse trágico, ainda assim eu ri, porque eu te dei uma camisa, chocolates e um cartão, e você ficou com o maço de cigarros. ou melhor, ficou com tudo, mas reforçou que era só pra eu saber que até aquilo você guardou.

ainda assim você não foi capaz de me explicar por que você não estava comigo enquanto eu tragava metade da nicotina daquela caixinha.

quem vai me julgar por querer saber o porquê?

pela última vez tentei entender:

se você gosta tanto de mim por que nunca tentou se resolver comigo?

cliquei em enviar

e dessa vez a vida se encarregou de me mostrar que, em alguns casos, a ignorância deve ser mesmo tida como uma benção…

visto há 24h

você nunca vai me responder.

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