Um passo de cada vez

Camila
2 min readSep 28, 2021

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Na semana passada eu falei pra terapeuta que áudios me causam ansiedade. Bom, não são os áudios, é a incerteza do que vem neles. Não é como se alguém fosse me chamar pra ajudar a esconder um corpo ou pedir um empréstimo ou dizer que o casamento acabou, até porque eu nem sou casada, mas não ter uma visão clara do que tem ali faz com que eu os evite.

Veja bem, tem forma melhor de lidar com alguma coisa do que a evitando? Essa foi uma pergunta totalmente retórica. Eu sei a resposta certa.

Existe.

Mas acontece que eu gosto de evitar, por isso não abro a conversa e não escuto o áudio, mas fico ciente de que há uma pauta desconhecida me espreitando como um lobo a espera de um cordeiro.

A diferença é que eu não sou um cordeiro. Muito menos um lobo.

Sou alguém que tem dificuldade em lidar com aquilo que não garante estabilidade. Gosto de pé no chão e saber que aquele rio dá pé.

Até que, por ironia do destino, eu quebrei o pé. Parece brincadeira, mas entre uma cerveja e outra e um chão desconhecido num momento de escuridão, tropecei num toco e minha vida virou de cabeça para baixo (literalmente).

É uma loucura, porque no hospital não importa se precisam de você para lançar uma campanha do trabalho ou se o aniversário do seu primo vai ser num acampamento e você sempre quis acampar. Vão te atender… quando der. Ah, também não dá pra saber se na janta vai ter sopa sem sal de novo, é questão de sorte (ou destino ou deuses ou posição da lua, fica a seu critério).

E foi por isso que eu voltei pra terapia. Porque por um contratempo fiquei de pernas pro ar. Não tanto como aquele filme - que é muito bom inclusive -, mas de um jeito que me fez surtar e lentamente descobrir que isso faz bem pra circulação sanguínea e, de quebra, ajuda a bombear vida e ter história pra entreter amigos e conhecidos.

Quem iria imaginar? Ninguém.

No fim das contas, o que é a vida se não uma sucessão de “Quem dirias”? Um amontoado de incertezas? De probabilidades, áudios duvidosos e convites para eventos que podem te causar uma lesão passível de cirurgia?

Brincadeiras a parte, não dá pra saber. Mesmo (a não ser que você seja personagem de um filme de ficção e veja o futuro). Mas podemos sempre ser pegos de surpresa pelas coisas boas da vida.

Possibilidades.

Por isso, um dos exercícios propostos pela psicóloga é me questionar por que não poderia lidar com os conteúdos dos áudios e ouvi-los. Podem ser bons. E eu não preciso responder de cara, mas começar. Do jeitinho que eu tô acostumada ultimamente: um passo de cada vez. Literalmente.

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